quinta-feira, 21 de junho de 2012

Assassinato em Paulista alerta para a participação de adolescentes no tráfico de drogas

Do NE10


David Augusto Florentino de Souza, 12 anos, foi assassinado com vários tiros na noite dessa terça-feira (19) a caminho de casa, na comunidade do Ferro Velho, bairro de Pau Amarelo, em Paulista, Região Metropolitana do Recife. David é apenas mais um entre vários meninos que, envolvidos com o perigoso mundo das drogas, perdem precocemente a vida. 

Apesar da pouca idade, o garoto já tinha vida de adulto. Sofrendo agressões da mãe por vários anos, já morou em abrigos e, às vésperas de morrer, vivia na casa de duas irmãs. Para conquistar a independência, começou a trabalhar como "aviãozinho", transportando maconha para um traficante local, segundo a família. "Nós não queríamos que ele entrasse nesse meio ruim; o problema é que era muito teimoso. Mas vendia e não usava", explica uma das irmãs, de 23 anos.

Ela, que preferiu não ser identificada, acredita ser a causa da morte do menino. Depois de três anos de relacionamento com um policial militar casado, a moça foi ameaçada de morte no último domingo (17). Quando se viu na mira da arma do companheiro, decidiu fugir. "Como ele não sabia onde eu estava, foi atrás do meu irmão", lamenta.


De acordo com os policiais da Força-Tarefa Norte do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), moradores locais afirmaram que David foi assassinado por vender maconha no local onde o tráfico era dominado por uma grupo criminoso. O assassinato seria, dessa forma, motivado pela disputa de entorpecentes. "Foram vários disparos de pistola .40. Me parece vingança", denuncia a irmã da vítima. 

As investigações ficarão sob responsabilidade da Delegacia de Maria Farinha. Mesmo que o homicídio não tenha sido causado pelo tráfico de drogas, essa é a realidade de muitos outros meninos no Grande Recife. "O envolvimento deles com certeza está ligado a problemas sociais, à falta de oportunidade", afirma o delegado Geraldo da Costa, da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente. 

Ainda há outras causas. Muitos jovens começam a traficar drogas para ganhar prestígio na comunidade onde vivem. "Eles passam a ser os 'caras' que atraem o que todo mundo quer", diz. O consumo de entorpecentes por crianças e adolescentes, ao contrário, segundo o delegado, muitas vezes começa através de amigos, pela "curtição".

 
A realidade para muitas das crianças do tráfico é a morte precoce. "A maioria não chega aos 30 anos. Seja vítima de homicídio ou das doenças provocadas pelo consumo de drogas, a maior parte acaba falecendo", disse o delegado Geraldo da Costa (Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem)

FAMÍLIA - David nasceu no dia 31 de dezembro de 1999 e, aos 12 anos, cursava o 6º ano do ensino fundamental em uma escola nas proximidades de onde vivia, de nome desconhecido pela família. A mãe de David é acusada pelos filhos - 13, ao total - de agressão. "Ela não ficou com a guarda de nenhum. Nós, os mais velhos, saímos de casa para trabalhar, mas os mais novos tiveram que ficar com ela. Depois, os vizinhos denunciaram para o Conselho Tutelar", diz o seu irmão Felipe Henrique Florentino de Souza, 20, que voltava do trabalho pouco depois de o crime acontecer, chegando a ver o corpo do menino alvejadono meio da Rua Tchecoslováquia.

Além dos problemas da violência cometida pela mãe, David e os seus 12 irmãos sofreram com a ausência do pai. De acordo com Felipe, cada um deles era filho de um homem diferente. Segundo a psicóloga Aline Lopes Ribeiro, a vida em casa é a primeira escola. Até por volta dos 7 anos, a criança cria a sua personalidade, no convívio com a família. Se ela não tem estrutura, a tendência é que os problemas continuem e que alguns comportamentos violentos, por exemplo, sejam tratados como normais.

Felipe disse à Polícia Militar que já cumpriu medida na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) pelo crime de latrocínio. "Se ele (David) tivesse maior orientação e exemplos a seguir, talvez não tivesse entrado no tráfico. Claro que há exceções, mas com crianças que têm uma vida dura e com maus exemplos, a maior probabilidade é essa", explica. Saulo, 16, é um deles. "Quando os outros foram adotados, só ele e David ficaram conosco. Mas ele é do bem, é evangélico e gosta de estudar", afirma Felipe.

O delegado Geraldo da Costa também acredita que o envolvimento dos adolescentes com o tráfico tenha ligação com a estrutura familiar. "Às vezes, acontece até na escola. Outras causas podem ser a violência e os conflitos na família, quando a droga passa a ser um meio de fuga. Os pais também podem influenciar o consumo".

Ainda há o problema social, segundo a psicóloga: precisando de dinheiro e percebendo que as drogas dão retorno rápido, podem ser atraídos para o crime. "Depois que já estão envolvidos, esses garotos envelhecem muito rápido. Continuam com corpo de meninos, mas já têm a malícia e a agressividade de um adulto", afirma Aline Lopes Ribeiro. 

Mesmo depois da trágica morte de David, que será sepultado na manhã desta quinta-feira (21), no Cemitério de Paulista, a família ainda tem esperança. Felipe, que só estudou até a 8ª série do ensino fundamental, planeja concluir o ensino médio. Depois, quer tornar-se chef de cozinha, no seu próprio restaurante. Já a irmã deseja arrumar um emprego e se libertar do ex-companheiro que acusa ser assassino. "O meu sonho é que ele esqueça que existo para que eu possa ser feliz.
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